Até que ponto os eventos atmosféricos podem ocasionar acidentes de aviões
Reconstrução do Desastre Aéreo de Tenerife, 27 de mar. 1977. Teve névoa como uma das causas. Imagem de crashdehabsheim.net
Com o passar das evoluções tecnológicas do transporte aéreo e as sucessivas lições com acidentes que ocorreram, diversos sistemas foram incorporados nos aviões como informações meteorológicas com atualizações constantes e em tempo real bem como sistemas de sensores e de adaptação às condições atmosféricas. Para ser piloto de avião, é necessário um treinamento intenso e conhecimentos que vão além da operacionalidade, mas também um repertório de assuntos em meteorologia. Não obstante, esse modal de transporte já é considerado o mais seguro de todos, segundo a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) visto que quando comparado com os outros, apresenta uma notável redução de acidentes. Nos últimos dez anos (2011/2020), foi o período mais seguro da história da aviação mundial, e acidentes de origem meteorológica estão longe de ser um único fator para acidentes aéreos.
As condições atmosféricas podem afetar a segurança do avião a depender de sua fase de voo e da altitude em que se encontra, sendo que a turbulência é a mais comum. Em altas altitudes eventos dessa natureza podem ocasionar ferimentos na tripulação ao longo das fases de subida e descida quando ocorre variações bruscas do avião; as fases de aproximação também exigem uma atenção maior do piloto. A baixa visibilidade, seja em ocasiões de nevoeiro, chuva forte e queda de neve, nas fases em que o terreno está mais próximo do avião representam de alto risco aos pilotos e são um nível de ocorrência significativo de acidentes já registrados.
A baixa visibilidade foi um dos motivos cruciais do maior acidente aéreo da história, o Desastre Aéreo de Tenerife, de 27 de março de 1977 que envolveu dois aviões da Boeing 747: um da KLM e o outro da Pan American. Tal acidente teve como causa não apenas a baixa visibilidade, neste caso de nevoeiro, mas sucessivos erros de comunicação entre os pilotos. A espessa camada que se encontrava na pista do Aeroporto de Tenerife, que foi construído em área de suscetível a nevoeiro de mar, baixou a visibilidade do piloto da KLM, que só avistou o avião da Pan Am a 100m de distância vindo em sua direção. Na tentativa de evitar o choque, o KLM tentou elevar voo, mas sem sucesso. O caso matou 583 pessoas.
A chuva também pode ser um significativo fator meteorológico contribuinte para os casos de acidentes próximos ao solo, e isso explica os frequentes atrasos de voos para decolagem. Em áreas de zonas tropicais e próximas ao Equador, a ocorrência de turbulência resultado de fortes ventos de direção vertical e sistemas convecção que causam chuvas e tempestades, são fenômenos aos pilotos ficarem atentos no ano todo. Em zonas de médias latitudes, os gradientes de temperatura e pressão são mais acentuados, o que também favorece turbulências mais intensas nestas áreas como conseguinte dessa característica baroclínica. Isso explica um estudo de acidentes aéreos entre 1990-1999 no Brasil, em que a região Sudeste e Sul são as que concentraram maior quantidade de acidentes como resultado de tais adversidades meteorológicas. Nestas zonas, sistemas de baixas pressão e frentes sinóticas são fenômenos a se considerar.
Acidentes causados por neve são mais frequentes em médias-altas latitudes do que em áreas polares, e as causas por gelo e congelamento em quaisquer casos são mínimos. Nas latitudes mais elevadas também é a chuva e baixa visibilidade as principais condições de acidentes. No caso de congelamento o uso de sistemas de segurança nos aeródromos para estas zonas e o baixo número de operações nestas áreas de menor fluxo reflete nesse mínimo. O uso de sistemas anticongelamento são importantes em razão da altitude em que os aviões realizam seu trajeto. Um caso de congelamento foi o do voo Palair Macedonian Airlines Flight 301, em 5 de março de 1993, em que após investigações foi identificado que a ausência de líquido especial para degelo ou anticongelante nas asas do avião agiu como fator limitante para se realizar o controle aerodinâmico do avião. Antes da decolagem, a equipe pensou que não havia a necessidade de tais procedimentos visto que as asas apenas estavam “molhadas”, mesmo sob temperatura local de 0°C. Não havia passado na cabeça dos pilotos que as condições atmosféricas de neve neste meio-tempo seria um fator crucial para o acidente.
Referências usadas
MAZON, J., Rojas, J., Lozano, M., Pino, D., Prats, X., & Miglietta, M. (2018). Influence of meteorological phenomena on worldwide aircraft accidents, 1967–2010. Meteorological Applications, 25(2), 236– 245.
MENDES, David; JOSÉ AUGUSTO FERREIRA NETO ; DAMIÃO, Monica . Enciclopédia: acidentes aéreos com causas meteorológica. 01/. ed. Natal: David, 2022. v. 1. 193p .
SOARES, Flávio Mendes. Análise de acidentes aéreos associados às condições meteorológicas no Brasil: uma análise sinótica. Orientadora: Maria Isabel Vitorino. 2012. 43 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Meteorologia) - Faculdade de Meteorologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 2012.
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