Estruturas e áreas verdes podem auxiliar na limpeza de poluentes atmosféricos nas cidades
Citadinos na Porta da Índia, em Nova Delhi, a capital mais poluída do mundo (Foto de Sajjad Hussain/AFP)
As revoluções industriais trouxeram uma urbanização profunda, marcada pelo uso do solo e um adensamento construtivo que estabeleceu novos modos de vida urbanos a partir das atividades econômicas. Atualmente, são pouco mais da metade da população global citadina, fenômeno este que teve como ponto de partida os países europeus industriais e que neste século vem ocorrendo nos países de urbanização mais tardia como os da Ásia, cujas projeções é de que até 2050 a população urbana chegue a 50%. Essa dinâmica das cidades traz novos dilemas, à medida que os fluxos humanos nem sempre acompanham um planejamento ambiental que promova o desenvolvimento sustentável e melhor qualidade de vida urbana.
A substituição do solo por extensos concretos para sustentar a dinâmica das cidades, fortalecem os subespaços urbanos modificadores das características atmosféricas, cada vez mais poluída e prejudicial aos indivíduos, que têm seus sistemas fisiológicos praticamente sufocados pelo ar tóxico. A presença de gases secundários resultados dos processos antrópicos como veiculares e do setor de transformação industriais se fixam como estufa na camada limite urbana. Cabe destacar que as emissões de poluentes de tráfego e atividades industriais, respectivamente, são as responsáveis pela maior parte de químicos nocivos à vida.
Deste modo, o clima urbano é resultado dos fatores de construções como o adensamento de edifícios e de pavimentação que alteram os elementos climáticos: a cobertura vertical dos prédios prejudica as correntes de vento, e o asfalto e revestimentos das obras absorvem calor, causando um aumento da temperatura urbana. Como efeito desse desequilíbrio e somado à forte presença de superfícies impermeabilizadas e dos poluentes atmosféricos, é gerado ambientes propícios para as conhecidas ilhas de calor. Esse fenômeno é uma condição dessas derivações típicas antrópicas do uso do solo e modificações climáticas nesta escala.
A ruptura desse sistema pode ser mitigada com estruturas naturais como paredes e telhados verdes, até a disposição de jardins e parques que não apenas servem para o controle do clima urbano, mas para a manutenção da qualidade de vida, oferecendo um serviço ecossistêmico. Sob a perspectiva de poluição urbana, essas áreas com presença do verde promovem uma função de limpeza, atuando como sequestro de gases poluentes como o CO (monóxido de carbono), o SO₂ (dióxido de enxofre) e NO (nitrogênio) a partir do processo de absorção que favorece uma melhor qualidade do ar. Fora isso, a presença de material particulado inaláveis de tamanho nano a micro (MP) também são evacuados e trazidos às superfícies vegetais por deposição seca. Os MPs são responsáveis por diversos problemas respiratórios e cardiovasculares todo ano e em especial nas grandes cidades.
Os parques e jardins são exemplos de um desempenho importante para a eliminação dos poluentes por atuarem fortemente no combate destes males. Isso ocorre em virtude do fluxo de brisas gerado pela vegetação, que tendem a dispersá-los. Tal turbulência é mais efetiva em espaços verdes mais densos como os parques. Já a vegetação em beira de estradas quando plantadas estrategicamente podem favorecer um ambiente com até 60% menos poluição, se disposto em uma avenida larga e a vegetação seja de estratégica configuração. Ruas estreitas de bairros mais contíguos a poluição tende a ser maior, visto que a má evacuação dos poluentes se dá pela falta de ventilação local. Mesmo que quanto mais próximo do verde a poluição seja reduzida, dificilmente a qualidade do ar seja em sua totalidade garantida, demandando medidas direto da fonte poluidora.
Referências usadas
Emeraro, T., Scarano, A., Buccolieri, R., Santino, A. & Aarrevaara, E. (2021). Planning of Urban Green Spaces: An Ecological Perspective on Human Benefits. Land, 10, 105.
Kumar, P.; Druckman, A.; Gallagher, J.; Gatersleben, B.; Allison, S.; Eisenman, T.S.; Hoang, U.; Hama, S.; Tiwari, A.; Sharma, A.; et al. The Nexus between Air Pollution, Green Infrastructure and Human Health. Environ. Int. 2019, 133, 105181.
Makhelouf, A. The effect of green spaces on urban climate and pollution. J. Environ. Health Sci. Eng. 2009,6, 35–40.
Commentaires