A COP-27 e as ainda tímidas políticas no combate às mudanças climáticas
Que a questão das mudanças climáticas é um dos temas mais caros hoje não é novidade. Esse tema já tem sido discutido desde a Conferência de Estocolmo em 1972, e outros sucessivos acordos que aconteceram desde lá, mas parece que muitas pautas não saem do papel. A Conferência do Clima em 2022, a COP-27, foi mais uma bomba milionária para os governos para nada de fato ser concretizado. Foram as mesmas promessas de sempre e uma estagnação das medidas de mitigação climática.
A começar pela complexidade da questão. O mundo cada vez mais necessita de energia, a população cresce e novas tecnologias que surgem em todos os setores demandam uma carga energética maior. Mas desde a industrialização, a matriz energética mundial ainda é massivamente dependente dos combustíveis fósseis. Em valores absolutos, mesmo que uma transição energética esteja gradativamente acontecendo, os combustíveis fósseis persistem como motor da energia mundial, segundo estatísticas de International Energy Agency (IEA), e energias sustentáveis, como a eólica e solar, ainda são uma realidade tímida.
Ao observar com maiores detalhes, a maioria dos emissores dos gases de efeito estufa, a indústria e os transportes, sendo o primeiro definitivamente nem um pouco interessado na transição energética a curto espaço de tempo. Além de que a rapidez com que os governos correm atrás do prejuízo ambiental através de políticas paliativas, pode gerar a médio prazo contrariedades às próprias medidas: a falta de um planejamento sólido e duradouro para a substituição de fontes poluidoras por painéis solares pode entrar em descompasso com a realidade. Isso porque externalidades como os impactos da mineração e toxidade dos painéis solares e baterias são alguns dos impasses que ainda são pouco discutidos, além da falta de um panorama mais certeiro que sincronize, em concretude, a demanda econômica com a proposta verde.
A verdade é que há um jogo de interesses sem fim. De um lado temos grupos asfixiando quaisquer progressos no combate às mudanças climáticas (em especial os produtores primários e secundários) e disseminando pseudociências, e do outro lado também há àqueles grupos “benfeitores” que ganham dinheiro em cima da causa ambiental. Sem falar das empresas que se promovem como participantes de uma economia verde, mas que na prática são vilãs do ambiente, só para conseguir ganhos pessoais, benefícios fiscais e marketing. A verdade é que o problema acaba sendo mais profundo do que se imagina; a questão da escalabilidade para formulação de medidas mitigadoras ainda é pouco explorada, e se espera demais de conferências mundiais anuais e planos num estilo top-down.
Os resultados são claros: na COP-27 foram muitas discussões do que deveria ter sido feito, desde a última em Glasgow (2021), como a meta reafirmada de 1,5°C, mas uma evolução tangível de implementação ainda não aconteceu. Do jeito que as coisas vão, com o aumento das energias causadoras do aquecimento global esse limite vai ultrapassar os limiares. Os países se comprometeram a reduzir sua matriz energética fóssil, mas isso não ocorreu como esperado, marcando uma estabilização nessa meta. A única grande evolução da COP do ano passado foi quanto às medidas das perdas e danos, mas referente às medidas de mitigação foi de novo postergada, para 2023. O que ocorreu foi uma grande ambição para países ainda pouco empenhados, talvez porque estejam mais preocupados com seus problemas internos.
Referências usadas
International Energy Agency (IEA). Key World Energy Statistics 2021 - Supply https://www.iea.org/reports/key-world-energy-statistics-2021/supply
留言