Razões de porque o clima não é o responsável pelo subdesenvolvimento
O clima não foi um fator limitante para o sucesso da cana-de-açúcar no Nordeste. (imagem de Farans Post)
É comum atribuir em certos casos as condições climáticas de determinada região ao seu nível de desenvolvimento. De primeira vista se for observado num planisfério, a maioria dos países tropicais são categorizados como “em desenvolvimento”. No caso da Europa, de clima temperado, o índice de desenvolvimento é mais elevado. Esta é uma questão que volta e meia perpassa as discussões nas áreas humanas e gera constantes contradizeres, pois implica em revisitar a discussão de determinismo ambiental, que já foi fortemente difundido no passado. É um tema delicado e com muitas facetas, entretanto interessante para se perguntar: “Até que ponto o clima afeta o desenvolvimento de uma nação?”.
Existe uma teoria que remonta a Antiguidade grega e posteriormente difundida até o século XX de que o fator clima agiria como determinante na fisiologia. Esta corrente defende que o clima quente presenciado nos trópicos causaria mais desgaste corporal e a redução da atividade física. Em contrapartida, em climas temperados, a forte desenvolvimento econômico europeu teria como motor o estímulo à atividade física como estratégia para o aumento da temperatura do corpo. Nesta linha, poderia ser uma das explicações do sucesso dos vikings. Entretanto, a ideia de “preguiça” para as regiões tropicais é duvidosa quando se avalia outras nuances das causas desse subdesenvolvimento, como a forte razão econômica.
A localização geográfica de um país, explica o nível de produtividade agrícola. As principais culturas alimentares (arroz, trigo e milho) são produzidas em maior quantidade e maior rendimento nas áreas temperadas. A desvantagem de áreas tropicais se deve pelas condições de elevada temperatura e de maior lixiviação do solo, o que sucumbe sua fertilidade. Muitos são os estudos que convergem na ideia de que as condições agrícolas favoráveis são importantes para se entender o sucesso de algumas nações, pois através dela se aumenta o nível de renda e riqueza.
Mas não existem relações de causa e efeito para o homem. Este possui a capacidade de racionalizar a produção agrícola superando os limites deterministas e intervindo na agricultura, de modo a torná-la apta às suas necessidades. Na trajetória de muitos países tropicais se observou essa superação. No Brasil, não foi diferente, conforme a experiência exitosa do Nordeste na implantação da agroindústria da cana-de-açúcar, que só teve sua decadência em razão de uma estrutura agrária de monocultura e de concentração do latifúndio.
Isso fortalece a ideia de que foi também o modelo de sociedade e de exploração da mão-humana e dos recursos naturais por um grupo dominante que foi uma das razoes para a pobreza da maioria dos países tropicais. A falta de educação, o fato de a população ser subalterna aos colonizadores, não permitiram o desenvolvimento em plenitude destes países. Pragas que se alastram com mais facilidade em culturas tropicais, doenças e outras enfermidades como a Dengue, encontraram condições suscetíveis para sua evolução nestas zonas, além da falta de saneamento, é que foram determinantes para enquadrar esses países como pobres.
Não obstante, nas regiões consideradas subdesenvolvidas, há predominância de alimentos energéticos como a base alimentar. Historicamente são nestas regiões onde a diversidade vegetal, de oleaginosas, tubérculos e outros alimentos fontes de energia, como a mandioca, serviram como sustento para os povos originários caçadores e de escravos, que sustentaram as economias a partir de sua força de trabalho. Mesmo com esse rol alimentício, é frequente as estatísticas apontarem nesses países um maior índice de desnutrição. O fato de com o passar do tempo a exploração e a privatização destes alimentos pelo mercado colonial é uma das justificáveis razões para a pobreza destes países. A preguiça então não seria explicação para o subdesenvolvimento. É importante lembrar que os seres humanos pré-históricos tiveram sua trajetória nas áreas tropicais e grandes civilizações também nestas áreas se desenvolveram.
Referências usadas
BARBATO, L. F. T. O Clima Tropical na História: relações de ambivalência. Élisée - Revista de Geografia da UEG , v. 4, p. 68-90, 2015.
CHAVES, N. (2011). Nutrição e trópico. Ciência & Trópico, 4(1)
SACHS, Jeffrey D., Andrew D. Mellinger and John Luke Gallup. “The geography of poverty and wealth.” Scientific American 284 3 (2001): 70-5 .
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