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Um grande impasse

Foto do escritor: Heleno Proiss SlompoHeleno Proiss Slompo

Considerações sobre a falta de investimento nas Ciências Atmosféricas



As Ciências Atmosféricas, englobando Climatologia e Meteorologia e suas interfaces com outras áreas ainda enfrentam desafios significativos no Brasil para o seu desenvolvimento. A baixa noção da população sobre a existência do curso de Meteorologia e sua importância contribuem para o desconhecimento dessa disciplina, que muitas vezes confundem seus propósitos e abordagens utilizadas. Essa lacuna de conhecimento impacta diretamente nos investimentos em pesquisa e infraestrutura, comprometendo a qualidade das previsões meteorológicas e a compreensão dos fenômenos climáticos em nosso país. O Brasil ainda caminha para a sua independência do uso de técnicas e o avanço de suas próprias metodologias para estudar os fenômenos atmosféricos de seu próprio território.


A evolução da meteorologia no Brasil foi marcada por avanços significativos na disponibilidade de dados, antes mais restritos ao governo e para fins militares. O grande impulso foi a criação de centros de pesquisa como o CPTEC/INPE e o CEMADEN. Antes deles, o INMET foi criado para os estudos meteorológicos de subsídio à agricultura, base econômica do Brasil, e que continua desempenhando um papel matriz. Esses institutos com o tempo foram se aperfeiçoando ao sistema global meteorológico, mas ainda dependem das técnicas e tecnologias internacionais. Cabe citar a ainda falta de integração entre essas instituições e a carência de dados em escala local, o que limita a capacidade de gerar previsões personalizadas. A adesão às diretrizes da Organização Meteorológica Mundial (OMM) também foi um passo importante, mas é necessário intensificar os esforços para ações concretas que beneficiem os múltiplos setores da sociedade. Atualmente, são variados os locais de armazenamento de dados meteorológicos, e até o uso do sensoriamento remoto para análise das propriedades da atmosfera.


A principal razão para os desafios enfrentados nas Ciências Atmosféricas está na insuficiência de investimentos nessa área, tão necessária em um contexto de emergência climática. É fundamental um financiamento contínuo para aprimorar a resolução, a temporalidade e a qualidade dos dados coletados, visando a construção de um banco de dados cada vez mais robusto para as pesquisas. A falta destes dados são um dos maiores impasses para os Climatologistas que enfrentam dados faltantes, descontínuos e até inexistentes para dados espaços. Para tanto, se utilizam de variadas ferramentas, o que inclui o sensoriamento remoto, que permite identificar o comportamento atmosférico, sua composição química e suas propriedades. Um grande escopo de dados e técnicas são aplicados na Amazônia, que detém a maior parte dos estudos interdisciplinares com participação internacional, mas ainda há muito a ser descoberto sobre a complexa interação entre atmosfera, terra, biosfera e atividades humanas em território nacional. Outras regiões, como o Sudeste (CETESB) e o Sul, também vem avançando em seu sistema de monitoramento.


A poluição atmosférica, uma das áreas menos exploradas da pesquisa ambiental no Brasil, enfrenta desafios ainda maiores. Esses desafios podem ser atribuídos a diversos fatores, entre eles: 1) a complexidade dos processos químicos e físico-químicos envolvidos na formação e transformação dos poluentes; 2) a diversidade e a dinâmica das fontes poluidoras; 3) a necessidade de equipamentos especializados, muitas vezes não produzidos em escala nacional; 4) a complexidade e o alto custo dos modelos de dispersão e concentração de poluentes; e 5) o maior foco em estudos sinóticos, como os relacionados a eventos de precipitação, em detrimento de uma análise mais detalhada da produção e comportamento dos poluentes atmosféricos. Apesar da crescente preocupação com as emissões de CO₂, outros poluentes adversos, com impactos significativos sobre a saúde humana e o meio ambiente, ainda carecem de estudos mais detalhados. A poluição atmosférica é um fenômeno intrincado devido à complexidade das interações entre os compostos poluentes. Suas propriedades reativas e os processos biogeoquímicos envolvidos desafiam a criação de modelos precisos e abrangentes.

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